Opinião: Ser árbitro de futebol é...


Uma das frases que ouço com frequência nas minhas andanças pelos estádios de futebol, através dos meios de comunicação ou até mesmo dos próprios árbitros, é de que fulano, beltrano ou sicrano, em função de terem apitado meia dúzia de jogos de futebol profissional, são árbitros profissionais. E, se porventura o apitador dirigiu uma partida de propulsão nacional ou internacional, fique em estado de alerta, porque em muitas situações o "árbitro profissional" muda o tom da voz, o modo de andar e altera suas amizades.

Sua personalidade sofre uma metamorfose e o que é pior: na maioria das vezes, diante das vicissitudes aqui nominadas, passa a tomar decisões também no campo de jogo em descompasso com o que preconiza a Fifa nas Regras do Jogo de Futebol. Sobretudo do seu espírito principal, que é punir o infrator. Resumindo: propiciar oportunidade a determinado tipo de pessoa para apitar uma partida de relevo, sem prepará-la adequadamente, pode arruinar a carreira, a personalidade de muitas pessoas e, por extensão, termos um árbitro malformado.
Feito este intróito, lembrei-me de uma palestra elaborada pelo professor Sérgio Corrêa da Silva, presidente da Comissão Nacional de Árbitros da CBF, que diz: ser árbitro de futebol significa treinar, melhorar, evoluir, crescer, modernizar-se, ler o livro de regras e se atualizar todos os dias. Realizar avaliações físicas e teóricas. Participar de reuniões.

Ter a certeza de que neste ano não tem pra ninguém e vai subir de categoria. Realizar a pré-temporada com êxito e torcer que a competição que vai participar inicie imediatamente. Ficar contente por ter sido sorteado na primeira rodada. Rever os colegas e colocar os assuntos em dia. Dizer que este é o seu ano! Retornar para casa e esperar pacientemente os dias do sorteio.

Consultar a internet, no menu arbitragem/escalas, todos os dias. Pensar que algo está errado se não foi nem para o sorteio. Dar uma observada nas escalas das demais divisões. Cumprir com brilhantismo as escalas. Ser sorteado, ficar feliz e saber que está crescendo na carreira. Realizar boas arbitragens sempre, não tendo o direito de nenhum tipo de equívoco. Confeccionar o relatório de forma fidedigna com o que aconteceu no campo de jogo ou fora dele. Descansar no dia seguinte e recomeçar tudo de novo. Ligar para os colegas e incentivá-los quando eles forem sorteados.

Assistir, ouvir e ler tudo sobre arbitragem. Sentir-se injustiçado se a nota recebida na partida que apitou não foi a desejada. Sentir-se justiçado se a nota do jogo foi boa. Marcar reunião para obter da sua comissão quais as perspectivas para a sua carreira. Amar a sua atividade de árbitro como se estivesse amando a si próprio. E, por derradeiro, achar que não foi bem aproveitado, mas que no ano seguinte não vai ter pra ninguém.

Por Valdir Bicudo  - bicudoapito@hotmail.com
Escrito em Português do Brasil

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