Um exemplo de superação na arbitragem


A voz doce e o jeito pausado de falar escondem uma personalidade forte e decidida. Rosalie Tempa Ndah François é uma empreendedora que trabalha para dignificar o papel da mulher. E a melhor maneira de fazer isso é dar o exemplo. Empresária, instrutora, directora de um projecto cinematográfico africano e assistente de arbitragem em jogos internacionais. Precisa de mais?
Aos 38 anos, Ndah François viverá algo que ela mesma descreve como "um sonho". Ela foi escolhida para fazer parte do grupo de arbitragem que apitará os jogos da Mundial Feminino da FIFA Alemanha 2011 (ver aqui) . "Até hoje, o meu melhor momento como árbitra tinha sido nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008". "Fiquei muito orgulhosa e feliz por representar o meu país e as minhas colegas da África."

Por trás do sucesso desta mulher do Benin, existe uma grande história de trabalho, esforço e dedicação. Decidida a romper qualquer preconceito, Ndah François é o exemplo de alguém que trilhou o próprio caminho num ambiente hostil para o género feminino.
"Não é fácil abrir caminho no futebol na África, principalmente em países muçulmanos", contou a árbitra, que é mãe de uma menina. "É preciso ser forte porque há muitas barreiras culturais e religiosas. De qualquer maneira, estamos a dar grandes passos em direcção à tolerância. As pessoas começam a entender que no futebol existe espaço para todo mundo. Já não é tão difícil como antigamente. Quando eu comecei, não nos deixavam ir a um estádio."

Ela começou a jogar futebol na escola, entre os meninos, e foi um treinador quem lhe sugeriu que se tentasse formar como árbitra. Foi o que ela fez: passou nos testes e em 2003 obteve a licença internacional da FIFA como assistente de arbitragem. "O mais difícil no Benin é encontrar uma oportunidade de dirigir jogos de alto nível, porque não há muitos torneios femininos consolidados", explicou. "É fundamental contar com o apoio da FIFA, que oferece cursos e torneios que nos ajudam a melhorar e, ao mesmo tempo, nos dá um modelo de trabalho para quando voltamos para casa."

Versatilidade
E quando está em casa, ela tem de encontrar o difícil equilíbrio entre os treinos, a família e as actividades profissionais. "Trabalho no 'Cinema Digital Ambulante' (www.c-n-a.org), que é uma rede internacional de associações que projecta filmes na zona rural e em bairros humildes dos centros urbanos de Benin, Burkina Fasso, Mali e Níger", contou Ndah François, que é a responsável pela associação em território beninense. 
"O trabalho está dirigido a pessoas que não têm acesso à cultura. Por meio dessas projecções, tentamos conscientizar e sensibilizar sobre os problemas mais graves que afectam o povo africano, como os casamentos arranjados e as questões das crianças."

Como se não bastasse, ela tem o seu próprio negócio: um salão de cabeleireiras. "Funciona também como uma escola, onde damos formação a mulheres que, depois de superarem exames de nível técnico, podem se estabelecer por conta própria", explicou. "Mas é claro que, nas concentrações internacionais com árbitras, alguma delas pedem-me para fazer as típicas tranças africanas", contou rindo.

Tantas actividades simultâneas revelam um espírito inquieto, uma personalidade forte e empreendedora. "É uma questão de se organizar bem para que dê tempo de fazer tudo", disse. "Não posso desperdiçar um instante sequer." No entanto, os gestos e o tom de voz desta mulher continuam a ser pausados e serenos. E essa serenidade é a sua principal ferramenta para encarar o lado mais complicado do seu trabalho dentro do terreno de jogo. "O mais difícil durante um jogo é que as decisões são tomadas em segundos, constantemente", afirmou. "Uma vez que você decide, precisa seguir em frente. Não pode ficar a pensar nas situações que já aconteceram. Você apita e vai em frente."

Agir e seguir em frente parece ser a filosofia desta mulher que nunca pára. Na vida diária, ela também é daquelas que faz, mas sem deixar de olhar para frente, para novos projectos. "Tenho vontade de trabalhar na formação de jovens árbitras do meu país, para que possam ser como eu e mais do que eu", disse. "O futebol e a arbitragem não são apenas para os homens; o desporto é para todos. As mulheres africanas começam a entender que não devem ficar em casa com as crianças a fazer comida para os maridos. É preciso que haja mais exemplos para que elas se possam envolver noutras actividades. Quero trabalhar no Benin para o desenvolvimento da arbitragem feminina."

Com um currículo desses, não há dúvidas de que ela conseguirá. Porque, mesmo que nos campos prefira ficar junto a linha lateral, Rosalie Tempa Ndah François é uma protagonista no trabalho de dar dignidade às mulheres, no futebol e na vida. Um grande exemplo.

Fonte: FIFA

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