Opinião: O árbitro não profissional





Marco de Vargas
Colunista Desportivo Brasileiro


O árbitro não profissional

Rodada após rodada do Brasileirão você liga a tevê ou o rádio depois do jogo e lá estão jogadores, técnicos, dirigentes e até colegas da imprensa em meio à entrevista coletiva discutindo sobre... A arbitragem.
Sim, arbitragem. É a chamada transferência de responsabilidade. O desempenho de jogadores, técnicos, preparadores físicos, médicos e diretores remunerados – estes sim, profissionais do esporte – parece que importa menos do que a performance dos sujeitos que foram jogados às feras em meio a um contexto pessoal que os direciona para um preparo e exigências profissionais, mas com amparo – ou desamparo – totalmente amadorístico.
Explico: todo o meio do futebol em alto nível do Brasil funciona sob o prisma do profissionalismo e das leis trabalhistas que conduzem a isso. Bons salários, fama, badalação e demais regalias provenientes da boa, em alguns casos, ótima exposição profissional.
Pois bem, e os árbitros?
Os árbitros são profissionais de outras áreas que estão ali fazendo um “bico”, por vezes rentável se ocorre na Série A ou B ou ainda se ele for do quadro da FIFA, mas nem por isso deixa de ser uma atividade secundária.
Tudo isso porque árbitro de futebol ainda não é uma profissão regulamentada. Em maio deste ano foi aprovado na Câmara, depois de aguardar por – pasmem – 10 anos, o Projeto de Lei 6405/2002 que finalmente visa regulamentar a profissão de árbitro de futebol no Brasil. Aprovada sob a forma de emenda substitutiva, a matéria retornou para a análise do Senado, onde teve origem como Projeto de Lei 294/2001, a partir da chamada CPI do Futebol realizada em 2001.
PRECISAMOS É DAR CONDIÇÕES – FÍSICAS, PSICOLÓGICAS E FINANCEIRAS – PARA QUE OS ÁRBITROS DE FUTEBOL NÃO SE DISTANCIEM TANTO DOS DEMAIS ENVOLVIDOS NO CONTEXTO EM QUE ELES ATUAM
Vale ressaltar que a Lei aprovada na Câmara estabelece, por exemplo, punição para os envolvidos diretos com arbitragem fraudulenta, quando for comprovado que houve interferência dolosa no resultado natural de uma partida, inclusive com penas de detenção para os indiciados.
Mas enquanto os árbitros não são inseridos efetivamente nesse contexto, seguem totalmente desamparados e no olho do furacão, recebendo críticas e avaliações desumanas de gente que se vale principalmente dos recursos eletrônicos aos quais os mesmos não têm acesso durante o desempenho do seu ofício.
O argumento de que caso a International Board adotasse um mínimo de recursos eletrônicos para auxiliar os árbitros durante as partidas tal medida resolveria em parte os problemas é dúbio, para não dizer paliativo. Poderia diminuir a chance de erro, o que é importante, mas não invalida a necessidade urgente de profissionalizá-los. Ao contrário: aumentando a exigência, precisa-se elevar a condição profissional dos envolvidos.
Equívocos são inerentes aos seres humanos e vão ocorrer sempre, em maior ou menor intensidade. Precisamos é dar condições – físicas, psicológicas e financeiras – para que os árbitros de futebol não se distanciem tanto dos demais envolvidos no contexto em que eles atuam, ficando à margem da discussão, sempre na condição de acusados e invariavelmente com escassas possibilidades de defesa.
A César o que é de César.

Nota: Texto escrito em português do Brasil


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