Opinião: O risco e os erros de João Capela


O Maisfutebol é o jornal desportivo português que menor destaque dá a árbitros e dirigentes. Sempre foi assim e não é por acaso. Nascemos há treze anos para escrever sobre jogos, jogadores e treinadores. Contar histórias. Futebol jogado, em vez de futebol falado, futebol gritado, futebol insinuado. É assim que temos crescido, é assim que continuaremos.

Esta coluna, obviamente, reflete essa linha editorial.

Dito isto, no Maisfutebol é possível escrever um texto apenas sobre uma arbitragem. Como prova o que se segue.

Tenho dois pontos de vista sobre a arbitragem de João Capela. Um baseado no que vi, em serviço, na Luz; outro a partir da análise dos lances na televisão.

Na Luz achei que João Capela tentou fazer aquilo que se designa por deixar jogar. Na prática significa que o árbitro permite choques e não apita aquelas faltas de faz-de-conta. Pessoalmente, isto agrada-me. Há muitos anos que identifico as quedas fáceis como um dos problemas que afetam a qualidade do nosso futebol. Culpa de jogadores, treinadores mas também dos árbitros. Ou seja, gosto de árbitros que deixam jogar, irritam os futebolistas fiteiros, contribuem para o jogo.

Um critério assim expõe mais o árbitro. Os jogadores não estão habituados e protestam, até porque têm de correr mais. Os adeptos não sabem observar futebol assim (embora fiquem todos contentes quando vêem apitar desta forma em Inglaterra ou na Alemanha) e criticam. Os dirigentes nem se fala. A bola corre muito, aumenta o tempo útil, logo a possibilidade de se jogar mais e haver contacto.

Dito isto, fiquei com a sensação de que João Capela deixou escapar algumas faltas (claro¿), nada especialmente grave.

Sobre os lances polémicos, isto: falta de Garay sobre Wolfswinkel, que foi demasiado holandês e tentou rematar. Dúvida sobre o lance entre Maxi e Capel. Falta de Maxi sobre Viola, perto do fim.

Depois de ver o jogo na televisão confirmei que de facto João Capela deixou escapar algumas faltas e poupou nos cartões amarelos. Mas no essencial ajudou a partida, permitindo um derby vivo, corrido, agradável e intenso.

Sobre os lances de que se fala, confirmei que ficou por marcar uma grande penalidade sobre Wolfswinkel (entre árbitro e auxiliar, um deles deveria tê-la visto; mais o auxiliar, o lance é muito rápido, quando os jogadores entram na área Capela está na linha de meio-campo). Percebo que existam dúvidas sobre o que se passou na jogada Maxi-Capel. Continuo a tê-las. João Capela está bem colocado. Sobre o terceiro lance, julgo que era fácil ter visto o braço de Maxi a travar Viola.

Tudo somado, que penso eu? 

A verdade desportiva assenta, entre outras coisas, em critérios uniformes de arbitragem. Sei que isso é uma utopia, mas mesmo assim devemos persegui-la. Por muito que me agrade o estilo deixa jogar de João Capela, essa não é a norma na Liga portuguesa. Infringir a regra num derby, ainda por cima perto do final do campeonato, é menos corajoso do que errado. O resto é óbvio: os erros graves de arbitragem existiram, todos desfavoráveis ao Sporting.

Partir daqui para, como já ouvi alguns sportinguistas, assumir que isto acontece sobretudo ao clube de Alvalade, que não se respeita o emblema (etc, etc) é, acho, apenas uma parte da explicação para o ponto a que chegou o Sporting.

Os erros dos árbitros fazem parte do futebol e isso é das poucas coisas garantidas. 

Compreendo que os treinadores sintam dificuldade em aceitá-los. Será sempre assim.

Quanto aos dirigentes, os bons empenham-se em trabalhar para que as equipas de arbitragem sejam cada vez mais competentes, assim contribuindo para que os erros diminuam. Os maus gritam e procuram abordagens populistas. Que nada resolvem.


Autor: Luís Sobral
Fonte: Mais Futebol

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