Vídeo: Árbitro invalida golo em nome do Fair Play

E se um jogador mandasse o «fair play» às malvas, mas o árbitro não deixasse? Aconteceu este fim de semana em Inglaterra, no Norwich-Cardiff. Com 0-0 no marcador, no último minuto. O protagonista é Leroy Fer, numa história que começa em Ricky Van Wolfswinkel. 

Fer diz que, como é holandês e chegou esta época à Premier League, não conhecia o código de desportivismo que manda devolver a bola ao adversário quando este a chuta para fora para que um jogador seja assistido. Por isso, quando Wolfswinkel, que também é holandês e chegou agora a Inglaterra, fez o lançamento e a bola lhe foi parar aos pés, Fer rematou. E fez a bola entrar na baliza vazia. À partida, o golo devia valer, embora o fair play dissesse o contrário. Mas, quando as coisas prometiam aquecer, com os jogadores do Cardiff em peso a rodearem Fer, o árbitro Mike Jones atalhou o assunto. Disse que não tinha mandado reatar o jogo, pelo que o golo não valia.

Deixou Fer baralhado. «Olhei para o árbitro e ele deu a indicação para jogarmos, com as mãos. Fiquei um pouco confuso. Queria marcar porque queria ganhar o jogo», começou por explicar o médio holandês que o Norwich contratou no defeso ao Twente. «Mas depois o árbitro disse que não apitou, por isso o jogo não podia contar. Mas normalmente não se apita para um lançamento, por isso é que eu marquei.»

O jogador tem razão? O árbitro podia ter feito o que fez? Em condições normais o juiz não tem de apitar num lançamento, mas tinha havido uma lesão e, além disso, Mike Jones tem margem de manobra para se «defender». Quem o diz é o antigo árbitro Pedro Henriques.

«Após uma substituição ou uma lesão com assistência, não sei se foi o caso, o árbitro para reatar o jogo tem que usar o apito», explica Pedro Henriques ao Maisfutebol, acrescentando que, de qualquer modo, o árbitro «pode dizer que não estavam reunidas as condições» para que o jogo fosse retomado e, por isso, mandar repetir o lançamento. A questão pode tornar-se mais complexa, acrescenta Pedro Henriques, se se confirmar que o árbitro deu mesmo indicação para que fosse feito o lançamento.

As imagens não são totalmente claras. Parece haver de facto um gesto de Mike Jones, antes de Van Wolfswinkel se dirigir à linha para fazer o lançamento. Depois vê-se o antigo avançado do Sporting a atirar a bola para dentro do campo com uma expressão de contrariedade, como se tivesse percebido naquele momento que aquela bola não era para a sua equipa aproveitar. Ricky Van Wolfswinkel tinha entrado minutos antes e, tal como Fer e toda a equipa do Norwich, queria ganhar o jogo. Depois, vê-se Leroy Fer a rematar e a ser imediatamente rodeado pelos adversários. 

Mike Jones ainda não falou sobre o assunto. Mas, mesmo que o árbitro tenha recorrido a um subterfúgio para defender o desportivismo, o caso pode ficar assim. Pelo menos no que depender do Norwich, que não deve fazer mais ondas. O treinador do Cardiff, Malky Mackay, até veio dizer no final que logo que se deu o lance o treinador do Norwich, Chris Hughton, bem como o seu adjunto, Colin Calderwood, se tinham oferecido para deixar o adversário marcar se o golo tivesse sido validado.

Na verdade, Hughton não confirmou esta «oferta». No final do jogo o treinador do Norwich, que durante a partida foi muito criticado pelos adeptos pelas suas opções e substituições, até chegou a dizer que ia tentar esclarecer a situação do ponto de vista dos regulamentos. Mas, mais tarde, também disse que não queria ganhar com um golo assim: «Não tenho problemas com a forma como as coisas ficaram. Foi estranho, muito estranho. Não é forma de ganhar um jogo.»

A atitude do árbitro foi elogiada por vários comentadores em Inglaterra. E sobretudo pelo treinador do Cardiff. «Prevaleceu o bom senso. Às vezes isso tem que prevalecer sobre as regras. Se não ia ser uma palhaçada», disse Malky Mackay.

O treinador do Cardiff acha que Mike Jones fez o que devia fazer para manter a boa imagem do futebol inglês. «Há muito respeito pelas pessoas neste jogo, e isso pode perder-se rapidamente. Toda a gente no estádio, tirando o rapaz (Fer) ficou chocada. Teria sido um final horrível para o jogo. Ter-se-ia reflectido de forma muito má no nosso campeonato, que é tido em alta consideração por todo o mundo.»

Quanto a Fer, depois de passada a perplexidade lá disse que aprendeu a lição de «fair play: «Queria marcar, queria ganhar o jogo, queria ganhar o jogo. Na Holanda, se atirarem a bola fora e quisermos continuar a jogar, continuamos a jogar. Vejo agora que é diferente em Inglaterra. Para a próxima vez devolvo a bola ao guarda-redes.»

Veja aqui o lance:

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