Opinião de Luis Sobral: "O futebol que nos envergonha"


A maior cobardia num jogo de futebol é bater num adversário caído no relvado.

Fora dos relvados, o equivalente a isto é convocar toda a força mediática de um clube grande para atacar um árbitro.

É provável que os adeptos não tenham a exata noção disto, mas sempre que um dirigente de clube critica, de forma especialmente violenta, um árbitro o seu objetivo é 
marcar pontos. Por uma razão qualquer que desconheço, os responsáveis dos clubes acreditam que existe alguém que, algures, mantém uma conta-corrente de erros de árbitros. E, jornada após jornada, vai acertando as contas.

É evidente que isto não funciona assim.

Os árbitros erram e acredito que possam ser influenciáveis. Todos somos, não é? Mas não acredito que desejem prejudicar este clube, aquele dirigente, o outro treinador. Não acredito, embora esteja disponível para ser convencido do contrário. Tragam as provas.

Os erros dos árbitros são, no fundo, iguais aos erros dos jogadores. Têm exatamente o mesmo peso, se não menor.

No dérbi, por exemplo, o erro mais visível de Duarte Gomes foi não ter assinalado grande penalidade sobre Luisão. No entanto, esse erro acabou por não ter qualquer influência porque um outro erro, muito maior, o anulou. Claro que logo a seguir, e esta segunda-feira, diversas pessoas disseram o óbvio: Rui Patrício é excelente guarda-redes, já assinou enormes defesas (naquele mesmo jogo, por exemplo). Por isso será titular no próximo compromisso do Sporting e terá a nobre missão de defender a baliza da seleção nacional no Play-off (apesar de um outro erro, recente, frente a Israel). E é justo que assim seja, tem crédito.

Não houve qualquer onda de compreensão face aos erros de Duarte Gomes, que existiram. Pelo contrário, o Sporting parece apostado em manter o assunto vivo mais uns dias. E subir o tom, se possível for.


Este tipo de atitude alimenta o fanatismo. Por isso a critico. Hoje, como no passado. Seja qual for o clube, seja qual for o presidente ou treinador. 

Produzidas neste tom, estas críticas desgastam a imagem da indústria-futebol, não trazem qualquer resultado positivo e impedem, neste caso, que se saliente o óbvio: o excelente trabalho que Leonardo Jardim está a fazer em Alvalade, ajudado por um grupo de jogadores que continuam a crescer. Mais erro menos erro. Mais fora-de-jogo menos fora-de-jogo.

Tão lamentável como o discurso incendiário dos dirigentes (Bruno de Carvalho, na linha de Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira ou, antes, o clã Loureiro: são todos iguais) é a incapacidade de Federação e Liga para castigar exemplarmente este tipo de declarações. Hoje, segunda-feira, ainda não conhecemos a avaliação ao trabalho de Duarte Gomes. Mas sabemos que foi analisado e que existe uma estrutura na arbitragem que agirá em conformidade. Se a nota for baixa, isso terá consequências para o juiz. Sobre as declarações de Bruno de Carvalho já é possível ter uma certeza: nada acontecerá. Como nunca algo de relevante sucedeu a um dirigente de clube grande em casos deste tipo. Aparentemente, é deste futebol que as pessoas gostam. Incluindo os responsáveis (a «resposta» do Benfica é outro lamentável exemplo, na linha lastimável a que já nos habituou). Durante o defeso, altura em que é possível mudar os regulamente, limitam-se a ir de férias.

Os árbitros erram e provavelmente todos eles poderiam ser um pouco mais competentes. Sim, mas a atenção que merecem os seus erros em jogos dos grandes é claramente desproporcionada. E perigosa. O que estão a fazer a Duarte Gomes (como antes fizeram a Pedro Henriques, Pedro Proença, Lucílio Batista ou João Capela, entre tantos outros) é um ato de cobardia. Inaceitável, por isso.

NOTA Para mim, o desporto é esta foto. Não obrigo ninguém a olhar para um dérbi assim, mas posso divulgar a imagem.

Autor: Luís Sobral
Fonte: Mais Futebol

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