José Gomes: "Profissionalismo não acaba com os erros dos árbitros"

José Gomes acredita que o projecto do profissionalismo dos árbitros portugueses, já em curso, contribuirá de forma decisiva para elevar o sector a um "patamar de excelência", mas alerta para o perigo de que a opinião pública possa perceber que tal passo represente a obrigatoriedade da erradicação dos erros.


Em entrevista a Bola Branca, o presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) é claro quanto à matéria, exortando os dirigentes a promover uma mentalidade de tolerância quanto aos juízes.

"Acreditamos no projecto [do profissionalismo] e espero que o futuro venha a dar-lhe razão. Como costumo dizer, não é o profissionalismo que vai acabar com os erros de arbitragem, tal como os jogadores são profissionais e falham passes. O que tem que se criar é uma mentalidade diferente dentro do futebol. É preciso perceber que o erro do árbitro é um erro comum, como cada um de nós temos na nossa profissão. Quando conseguirmos perceber isso, o futebol português vai ser diferente", sustenta.

Causou alguma estranheza o facto de que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tenha avançado com 150 mil euros para garantir a implementação do profissionalismo dos árbitros até ao final da presente temporada.

Sabendo-se que cada um dos nove juízes profissionais (Olegário Benquerença, Pedro Proença, Duarte Gomes, Jorge Sousa, Carlos Xistra, Artur Soares Dias, João Capela, Hugo Miguel e Marco Ferreira) será remunerado com um salário na ordem dos 2500 euros mensais e que receberá, ainda, os prémios de jogo estipulados desde o início da temporada - os árbitros recebem sensivelmente 1300 euros por partida dirigida na Primeira Liga - e que o orçamento estipulado pela Liga de Clubes para a arbitragem de Primeira Categoria ronda os 4,7 milhões de euros por época, a questão é simples: chegarão 150 mil euros para assegurar o normal funcionamento do sector profissional da área?

"Este valor foi o mínimo que achámos para que o projecto avançasse e que os árbitros aceitaram. Os 150 mil euros são o valor avançado para o início do projecto e para que que se possa chegar ao final da época. Tudo o resto, como prémios de jogo, está contido no orçamento da Liga para esta época", explica o líder da APAF, revelando a intenção da Liga de Clubes de integrar de forma activa o projecto do profissionalismo. 

"A Liga já nos confidenciou que quer fazer parte do projecto e arranjar verbas para a sustentabilidade do projecto no futuro", adianta.

Mostrando-se crente na concretização de um dos principais objectivos do Conselho de Arbitragem - promover um quadro total de árbitros e árbitros-assistentes profissionais no arranque da temporada de 2016/17 - José Gomes faz uma pequena ressalva.

"É um processo gradual e no qual os árbitros terão que ser introduzidos, consoante as necessidades do nosso futebol. Ao longo destes três anos é preciso criar condições e ver a necessidade do futebol português de ter todos os árbitros profissionais. O projecto está estruturado para que sejam integrados todos os árbitros da Primeira Categoria [como profissionais, no início de 2016/17]", argumenta.

Ainda a confusão das classificações
O final da época passada ficou marcado, no sector da arbitragem, pelo processo das classificações, devido a erros na elaboração das avaliações dos juízes.

"Mascaradas" de critérios que os árbitros desconheciam, as classificações espelharam a cisão que se vivia, na altura, no seio do Conselho de Arbitragem, tendo mesmo havido a necessidade de se proceder a uma nova tabela de avaliações.

"A época passada não foi bem preparada pelo Conselho de Arbitragem. As coisas estão, neste momento, bem encaminhadas para que tudo retorne à realidade. Estou em crer que este ano nada disso irá acontecer", comenta José Gomes, confessando alguma surpresa pelo facto de, após a polémica, nenhum elemento do órgão que tutela a arbitragem nacional tenha assumido publicamente quaisquer responsabilidades.

"Consequências houve, internas. Mas, realmente, numa posição dessas, claro está que teria que haver uma responsabilização ou teria que ser apontado um responsável por tudo aquilo que se passou", atira.

Proença no Mundial contra as críticas internas
Uma prova da qualidade da arbitragem portuguesa? Pedro Proença, árbitro da final do Euro 2012 e da final da Liga dos Campeões desse mesmo ano, será o representante luso a marcar presença no Mundial 2014, a par da Selecção Nacional.

"Convicto" de que esse cenário se concretize, José Gomes faz uso do exemplo do juiz lisboeta para atestar as capacidades que a arbitragem portuguesa ostenta. Mas, ao que tudo indica, com muito mais respeito além-fronteiras.

"Muitas das vezes o que ouvimos, aqui em Portugal, é que os árbitros portugueses actuam melhor lá fora. Não é isso. Lá fora, o árbitro não é incomodado, está muito mais à-vontade para realizar o seu trabalho. Não existe a crítica constante que há aqui e não há a escalpelização de um erro, porque a FIFA e a UEFA não o permitem. Os erros que os árbitros cometem em Portugal são os mesmos que cometem nas competições europeias", conclui.

Fonte: Renascença

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