LIGA quer acabar com intervenção dos clubes na arbitragem

A proposta promete muita discussão na Assembleia Geral (AG) da Liga e, caso venha a ser aprovada, retirará aos clubes o actual papel interventivo em relação ao desempenho dos árbitros, vedando-lhes a possibilidade de reclamarem das avaliações dos observadores e de solicitarem a suspensão disciplinar de um juiz por erros técnicos graves. Uma matéria que, a par da proposta de agravamento das sanções disciplinares relativas a casos de corrupção, irá dominar hoje os trabalhos da reunião magna do futebol profissional.
Nos últimos dez anos tem sido assim: quando um clube tem razões de queixa do trabalho de um árbitro em determinado jogo, pode requerer o relatório do observador e apelar ao Conselho de Arbitragem para rever a nota atribuída, baseando-se na análise de imagens televisivas.
Pode ainda apelar ao mesmo órgão para suspender o respectivo juiz (entre dois e dez jogos), caso consiga provar a existência de erros técnicos graves durante determinado encontro, através dos mesmos meios tecnológicos. Duas formas de actuação dos clubes em matéria de arbitragem, usadas habitualmente sem grande parcimónia, que a Liga pretende agora eliminar, revendo o artigo 24.º (em conjugação com o ponto 3 do 18.º) do Regulamento de Arbitragem, no que diz respeito ao primeiro caso, e o artigo 155.º do Regulamento Disciplinar, no que concerne ao segundo.
Uma proposta que pretende ir ao encontro das exigências da FIFA, que tem pressionado a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) nos últimos anos no sentido de alterar a actual regulamentação e impedir, de vez, qualquer ingerência dos clubes na arbitragem. O futebol português será mesmo um caso isolado no contexto europeu nesta matéria.
"Se a AG da Liga confirmar estas alterações, significa que finalmente os clubes se deram conta que têm de lidar de outra forma com a arbitragem e será bom saber que este tipo de pressão injustificada sobre o sector terminou", defendeu António Sérgio, presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), que qualificaria como "marco histórico na arbitragem nacional" uma aprovação da proposta elaborada por Vítor Pereira, presidente da Comissão de Arbitragem.
"Fartos e cansados"
A decisão cabe agora aos clubes, mas António Sérgio deixa um aviso: "Estamos fartos e cansados deste problema e não estamos disponíveis para que se mantenham por mais tempo estas normas. Até porque, na prática, os clubes não usam estes artigos dos regulamentos numa lógica formativa, mas sim deformativa da arbitragem. Os árbitros estão fartos e cansados e preparados para defender os seus direitos nesta matéria. Pode acontecer o milagre de ficarmos sossegadinhos."
Acima de tudo, o responsável da APAF alerta para as injustiças que o actual quadro regulamentar potencia em relação aos árbitros, alvos de permanentes reclamações dos clubes, "por tudo e por nada".
"Se há aqueles que reclamam apenas das avaliações, ao abrigo do actual Regulamento de Arbitragem, há outros que, não satisfeitos com isso, reforçam ainda esta reclamação com o pedido de suspensão de um árbitro, usando para o efeito o Regulamento Disciplinar", justificou, considerando injusto que os clubes possam usar meios tecnológicos que não estão à disposição dos árbitros ("nomeadamente as imagens virtuais"), para demonstrarem os erros dos juízes.
Apesar destas críticas, António Sérgio afirma que os árbitros "estão disponíveis" para, futuramente, aceitarem que os sistemas de videogravação possam representar uma percentagem da avaliação final ("cerca de 25 por cento do factor de ponderação"), desde que seja garantida "a total justiça e equidade" na utilização destes instrumentos.
in: público.pt

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