Decisão Perfeita

Hoje, numa habitual leitura que faço do Diário Económico Online, encontrei um artigo de opinião que abordava, naturalmente, questões e problemas relacionados com o mercado de financeiro português. O interessante desta crónica é a comparação feita entre as entidades reguladoras da nossa economia com a arbitragem e o árbitros. Aqui deixo, para quem gostar de ambos os assuntos (arbitragem e mercados financeiros), esse artigo de opinião:




Pedro Marques Pereira

Decisão perfeita
Diz-se dos árbitros que os melhores não se fazem notar, o que desde logo dá ideia da dificuldade do seu papel – não é fácil ser-se a pedra fundamental para que o jogo corra bem e, ao mesmo tempo, não sair da sombra.
O árbitro não pode permitir jogo sujo e isso exige mão firme. Também não pode apitar cada vez que alguém tropeça, ou corre o risco de estragar o espectáculo. As equipas investem milhões em Cristianos Ronaldos e outras estrelas. O público quer vê-los dar espectáculo.
O mesmo se pode dizer dos reguladores. Se não têm autoridade, os mais poderosos esmagam os mais fracos tornando o jogo de sentido único e demasiado monótono. Mas se regular em excesso, as empresas não investem nas suas estrelas – neste caso em produtos e serviços inovadores – e satisfazem-se em jogar para o empate com aquilo que têm.
Em Portugal, o cargo de regulador tem servido sobretudo para queimar personalidades de prestígio, mesmo algumas cujas carreiras apenas pediam uma chave de ouro para a reforma. Uns desapareceram sem rasto, por pouco ou nada fazerem. Outros procuraram deixar a assinatura e estragaram mais do que consertaram – a sua carreira e, mais grave, o próprio cargo.
O sector mais complicado em Portugal tem sido o das telecomunicações. Não só porque mexe com algumas das empresas mais poderosas do país, mas também porque é um dos sectores em que mais se investe. O excesso de zelo pode travar milhares de milhões de investimento que muito ajudariam a relançar a economia – ou pelo menos a controlar a derrapagem.
Neste campo, vive-se (mais uma vez) um momento decisivo. Portugal tem de investir fortunas em novas redes de fibra óptica. O Governo quer fazer um brilharete na matéria e olhando à volta de forma pragmática apenas vê a Portugal Telecom com músculo suficiente para fazer o esforço. A PT aproveita para pedir maior flexibilidade por parte dos árbitros e os adversários queixam-se.Todos têm razão. A Portugal Telecom não quer fazer o esforço financeiro para de seguida ser obrigado a fazer oe sforço físico de carregar os adversários às costas. Os mais pequenos, temem a criação de um novo monopólio, numa altura em que ainda alinham as tácticas para o mercado mais aberto que resultou da separação da rede da TV Cabo.
Cabe ao legislador, que define as regras do jogo, e aos reguladores que as aplicam, encontrar o equilíbrio, sabendo à partida que nenhum dos lados ficará satisfeito. Mas cabe-lhes igualmente decidir depressa. Este tem sido o principal problema dos nossos árbitros e Portugal não se pode dar ao luxo de ter empresas dispostas a investir, eternamente à espera de decisões de secretaria. É sempre preferível uma decisão imperfeita do que a falta de decisão. E a experiência recente mostra que os nossos reguladores são peritos em passar tanto tempo a desenhar soluções perfeitas que quando se dão por satisfeitos, já não existe a realidade à qual se deveriam aplicar.

in: diarioeconomico.com

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