Vitor Pereira em entrevista ao DN

Reproduzimos aqui a entrevista dada pelo Presidente da Comissão de Arbitragem da Liga ao jornal Diário de Notícias.
O que se pode esperar dos árbitros esta época? Há condições para se assistir a um campeonato sem casos relevantes?
Há vontade para se conseguir uma boa época. Espero e acredito que todos estejam à altura da competição, que consigam cumprir a missão que encontramos para a arbitragem da Liga, algo que conseguimos criar este ano e cujo lema é garantir a imparcialidade e a valorização do futebol. Do ponto físico já demonstraram que estão na melhor forma de sempre, do ponto de vista teórico estão bem, tiveram médias superiores a 90 %.
Falou em missão. Como é possível cumprir?
Arbitrando bem. Porém, não podemos esperar grandes melhorias, porque não mudamos nada do ponto vista substancial. Os árbitros continuam a trabalhar oito horas diariamente, a treinar ao fim do dia, a chegar a casa de noite sem poderem ver as mulheres e os filhos. Isto não mudou.
Quer dizer que está céptico numa boa temporada para a arbitragem?
As limitações do trabalho do árbitro são as mesmas. Mesmo assim, acredito que se possa melhorar o índice geral das actuações. A época passada não correu bem, aliás começámos de forma incaracterística, mas houve um conjunto de factores que levaram a isso, como a fase preparatória, a introdução de novas tecnologias, problemas pessoas de alguns árbitros, o ruído à volta do "Apito Dourado". Este ano tivemos uma preparação mais favorável, com três jornadas da Taça da Liga, o sistema de comunicação áudio está já optimizado. O "Apito" está praticamente resolvido em sede desportiva. Este ano, os estão todos mais conscientes da importância que tem cada uma das suas decisões.
A que se deve essa a maior consciencialização?
Criámos uma missão, um conjunto de valores pelos quais todos nos vamos nortear.
Como se pode definir missão?
No fundo é sabermos todos o que cá andamos a fazer para não haver equívocos. É saber qual é o nosso norte. Antes havia dúvidas nisso, pessoas que não sabiam muito bem para que lado deveriam andar.
Que tipo de dúvidas se refere?
Se se perguntasse a cada um dos intervenientes o que estavam a fazer, para que servia a arbitragem do futebol profissional, se calhar cada um diria uma coisa. Agora todos dizem a mesma, ou seja, a nossa missão é garantir a imparcialidade e valorizar o futebol.
Mas garantir a imparcialidade não é uma obrigação do árbitro desde sempre?
Agora sabemos que é. Está escrito, está criado. Agora podemos perguntar no final de cada jogo se foi garantida a imparcialidade.
Um jogo menos conseguido que consequências terá?
A pedagogia deve ser feita pela positiva, mais pelo mérito do que pela punição. Queremos valorizar os que vão tendo mérito e cumprem os objectivos do grupo. Tentar que os melhores tenham mais oportunidades, apitem mais. No quadro de árbitro constam vários que nunca dirigiram jogos da I Liga.
Isso não o preocupa?
Este quadro está muito dividido. 40% é muito jovem e 60% mais experiente, o que já dá alguma garantia. Vamos ter lidar com estas diferenças. Dos 25 árbitros, 10 são inexperientes, quatro nunca apitaram na Liga principal e 10 fizeram menos de uma dezena jogos neste campeonato.
E quantos estão aptos para dirigir um Benfica-FC Porto, como o que vamos ter na próxima semana?
Há uns seis árbitros que podem fazer o jogo.
Jorge Sousa é o melhor árbitro?
O melhor árbitro é o que acerta mais. ... O melhor árbitro do ano é aquele que ao longo do ano foi mais consistente e regular, o que acertou mais. Na época passada tivemos um grupo de árbitros de grande categoria, dos melhores, com um desempenho muito abaixo do seu potencial por força de circunstâncias de ordem pessoal, familiar, académica, matrimonial.
Hermínio Loureiro interfere nas questão de arbitragem, nas nomeações?
Nunca senti interferência em momento algum do presidente da Liga.
Há muito que se pede que a divulgação do relatório dos observadores e dos árbitros. Equaciona essa situação?
Não. O que beneficiava o futebol com isso? Ninguém vai ao teatro para ver os bastidores. O que um árbitro diz não tem interesse para o futebol.

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