Entrevista a Jorge Sousa: “Nunca fui abordado nem pressionado”

Entrevista de Jorge Sousa ao Jornal Desportivo Quatro Linhas

Jorge Sousa, natural de Lordelo, terminoua época no primeiro lugar do ranking nacional de árbitros, tendo-lhe sido atribuídos 3,726 pontos. Curiosamente, esta classificação foi dada a conhecer no mesmo dia em que Jorge Sousa completava 33 anos de idade.
Tendo iniciado a sua actividade de árbitro na época de 1993/94, e ascendido aos quadros nacionais em 1997/98, foi promovido à primeira categoria em 2001/2002 e recebeu as insígnias de internacional cinco anos depois, portanto,em 2006/2007.
A nossa conversa com Jorge Sousa começou com uma pergunta típica do jornalismo de cabo de microfone...
Quatro Linhas – Sente-se feliz com este reconhecimento?
Jorge Sousa – Naturalmente. Trata-se do reconhecimento do meu valor e de um trabalho digno que procurei sempre desenvolver.
4L – Arbitrar é uma coisa difícil...
J.S. – Sim. A arbitragem é, como qualquer outra actividade que se queira desempenhar de forma digna, uma actividade prenha de dificuldades. No entanto, esta actividade é muito ingrata e difícil. Não existe margem para erro. É necessário tomar decisões ao segundo, e no segundo, num determinado contextode espaço e movimento, que nem sempre propicía as melhores condições de percepção e de ajuízamento. Torna-se assim ingrata e penosa.
4L – A Tv é o grande inimigo da arbitragem?
J.S. – Temos de conviver com a televisão.No entanto, não se pode dizer que, em termos gerais, a televisão é amiga ou inimiga dos árbitros. Ela aborda o jogo e, naturalmente, as decisões dos árbitros de uma perspectivadiferente daquela em que os árbitros estão colocados, e obrigados a decidir em tempo real, como disse, ao segundo, e no segundo. A televisão tem ao seu alcance várias câmaras,tem a possibilidade de repetir quantas vezes quiser e forem necessárias, enquanto que o árbitro não tem nada disso.
4L – A arbitragem é uma actividade muito discutida...
J.S. - É perfeitamente admissível que o trabalho do árbitro seja discutido, masentendo que a sua posição tem de ser mais bem compreendida. Estou convencido que a generalidade das pessoas não tem a noção verdadeira do que é decidir no momento, em esforço, sem meios tecnológicos auxiliares. A nossa actividade é assim muito incompreendida.
4L – É então favorável à introdução de novas tecnologias na arbitragem?
J.S. – Tudo o que possa vir a ajudar o acto de arbitrar será benvindo.
4L – Concorda com a profissionalizaçãodos árbitros?
J.S. Nós, os árbitros, somos o único sector amador num mundo altamente profissionalizado: jogadores, técnicos, dirigentes. Assim, estamos em desvantagem,porque não estão disponíveis condições suficientes e necessárias para a preparação e abordagem dos jogos. Além disso, a arbitragem é a única parte interveniente no jogo que não pode falhar. Tudo o resto é desculpável:as más decisões directivas, as tácticas inadequadas, os golos falhados e sofridos. Só ao árbitro não se perdoa que tenha falhado um fora de jogo, ou não marcado uma grande penalidade. Assim, sou totalmente favorável à profissionalização dos árbitros. Consideromesmo que a profissionalização é algo de inevitável. Ela permitirá aos árbitros uma melhor preparação do seu trabalho, e colocá-los-á em termos de condição física e psicológica, ao mesmo nível dos jogadores, que se preparam cada vez melhor. No entanto, convém alertar que a profissionalizaçãonão é a panaceia para eliminar o erro. Este está sempre subjacente à decisão humana. E isto acontece, quer na arbitragem, quer em qualquer outra actividade.
4L – O que espera do apito dourado?
J.S. – Espero que decida com justiça os casos que estão para julgamento.
4L – Alguma vez foi aliciado?
J.S. – Nunca fui pressionado nem aliciado. Aliás, tudo depende da confiançaque damos às pessoas.
4L – Sonha arbitrar uma final europeia?
J.S. – Cada coisa a seu tempo. Agora estou interessado em evoluir e cimentar a minha posição, e depois se verá.
4L – Nunca lhe apeteceu aplaudir um golo ou uma jogada genial?
J.S. – Nós vemos o jogo de uma maneira diferente do adepto, temos uma concentração em aspectos específicosdo jogo, mas somos privilegiados em participar em grandes momentos desportivos.

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