Árbitro chama a polícia quando ouve palavrões

«Ao primeiro insulto, aviso os delegados ao jogo. Ao segundo, chamo a polícia. Ao terceiro, acabo com o jogo.» Com três passos simples, Ángel Jiménez Bonillo pretende contribuir para uma revolução cultural no futebol. O jovem árbitro, de 31 anos, tornou-se notícia em Espanha pelo desejo, quiçá utópico, de mudar o Mundo da bola. Um jogo de cada vez.
Em conversa com o Maisfutebol, Ángel Jiménez revela a sua faceta pacifista, já evidenciada em torneios organizados para apoiar as vítimas de violência ou promover o convívio entre jovens de diferentes nacionalidades e religiões. Professor de língua espanhola e história da religião, o árbitro regressou aos relvados em 2006 para acabar com os insultos. Palavrões, melhor dizendo.
«Comecei como árbitro aos 16 anos, mas retirei-me da arbitragem em 2002. Voltei em 2006, quatro anos depois, já com outra visão sobre o futebol e o desejo de dar o meu contributo, num desporto que tem deixado uma péssima imagem», começa por explicar.
Ángel Jiménez louva o comportamento dos intervenientes no ténis, ou mesmo no râguebi, não admitindo que o futebol sirva para estragar o cenário: «Penso que o desporto pode passar uma mensagem ao mundo. Por isso, gostaria de ver o futebol sem insultos. O que faço é um convite à reflexão, para percebermos porque é que algo tão negativo não é punido socialmente.»
«Já tive de chamar a polícia três vezes»
«Alguns acham-me louco, mas ainda não tive de suspender qualquer jogo», diz o árbitro, entre sorrisos. Quando regressou, com 28 anos, desceu de escalão e voltou a dirigir encontros das camadas jovens. Mesmo assim, já teve de seguir o segundo passo do seu programa. «Que me lembre, já tive de chamar a polícia por três vezes, por causa de insultos nas bancadas», contabiliza.
«Ao início foi difícil, porque as pessoas não estavam acostumadas. Antes dos jogos, falo com toda a gente a explicar o que pretendo. Os miúdos ouvem-me como se fosse um professor no colégio, mas depois não podem conviver com insultos vindos das bancadas, até dos próprios pais. Portanto, quando ouço algo, tenho de agir», explica.
Ángel Jiménez Bonillo faz o que pode. Sabe que, provavelmente, não vai mudar o Mundo. Nem mesmo o mundo futebolístico, sobretudo num país que encara o futebol com tamanha paixão. Aliás, um pouco à imagem do que acontece em Portugal. Mas regressa a casa de consciência tranquila. «Vou vendo alguns jogos da Liga portuguesa pelo Canal Plus, também vi jogos da vossa selecção no Euro, e penso que são muito parecidos com os espanhóis, nesse aspecto. Gostava que ambos mudassem. Eu faço a minha parte. Agora, depende de cada um fazer o mesmo ou seguir o seu próprio caminho», conclui, refugiando-se na sua mensagem de marca: «Insultarias o teu filho?».

in: maisfutebol.pt

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