Golos-fantasma: Benquerença rejeita erro, Duarte Gomes reconhece falha

Olegário Benquerença, único árbitro português pré-convocado para o Mundial 2010, e Duarte Gomes, também internacional, são dois dos mais cotados juízes nacionais e com posições bem claras sobre o que pode contribuir para a «verdade desportiva». Em conversa com o Maisfutebol, falaram sobre os prós e contras do vídeo, do microchip, de mais dois assistentes em campo e, ainda, de jogos com os grandes em que foram visados devido a golos-fantasma... ou talvez não.
«Sou a favor de todo o tipo de medidas que auxiliem a verdade desportiva, sejam tecnológicas ou humanas», começou por dizer Olegário Benquerença, que, todavia, alertou para as inconsistências de ambas as vertentes. «Não há tecnologias infalíveis, não é seguro que garantam a verdade desportiva. O recurso a imagens televisivas é sempre subjectivo. Nem sempre o que as imagens captam corresponde ao que aconteceu», defendeu.
Os dois elementos extra na equipa de arbitragem também levantam questões ao árbitro de Leiria. «Hoje, com três, já há uma falta significativa de árbitros. Se passarmos para cinco teria de haver o milagre da multiplicação. Ironicamente, é uma medida que não terá grande aplicação por falta de meios.»
Qualquer que seja o futuro, Olegário Benquerença entende que deve estar ao alcance de todos. «Para mim, não há futebol dos ricos e dos pobres», comentou, lembrando: «A FIFA tem gasto milhões de euros em estudos e acredito que se houvesse uma solução clara ela já estaria cá fora.»
Na época 2004/05, no Estádio da Luz, o Benfica perdeu 0-1 com o F.C. Porto, depois de o árbitro do encontro não ter validado um golo de Petit, que Vítor Baía terá defendido já depois da linha. Olegário Benquerença mantém a decisão de então. «Já viu alguma imagem que mostrasse a bola dentro da baliza?», argumentou. «O futebol não sobrevive sem polémicas. Devia ser um jogo de capacidade técnica, em que os mais capazes vencessem os menos capazes», acrescentou. «No final de um campeonato as contas estão saldadas. Não conheço nenhuma equipa que não tenha tido erros a favor e contra.»
O juiz de Leiria lamenta, também, que só a arbitragem esteja em foco. «Não há jogadores e treinadores a cometer erros? Gostava de ver um clube que ganhasse um campeonato com um golo em fora-de-jogo e fosse capaz de recusar o título de campeão por causa do erro, isso sim, era credibilidade.»
Duarte Gomes reconhece «erro visível» frente ao Sporting
No decorrer da época, Duarte Gomes confrontou-se com uma situação que poderia ter tido outro rumo se pudesse recorrer à tecnologia ou a um assistente junto à linha de golo. Aos 73 minutos do Sporting-V. Guimarães da 10ª jornada, Nilson defendeu o remate de Postiga já dentro da baliza, mas o árbitro de Lisboa não validou o golo.
«A bola pode entrar e nós não conseguirmos ver. E nem sempre os auxiliares estão na melhor posição para o confirmar. A bola entrou, comprova-se pelas imagens, tivemos dúvidas e na dúvida não podemos validar. Foi um erro visível, com infelicidade no resultado», recordou.
«Sou sempre a favor do bem do futebol, em nome da verdade desportiva. Não seria coerente, em pleno séc. XXI, colocar obstáculos à tecnologia. Desde que a introdução da tecnologia não retire mobilidade, dinâmica e carácter humano ao jogo, têm o meu aval», defendeu, reconhecendo as vantagens da ajuda. «Pode tirar do ombro do árbitro o peso de uma decisão difícil.»
Também Duarte Gomes alertou para a escassez de árbitros na actualidade e que poderá travar a introdução de mais dois elementos em campo. «São precisas mais pessoas e há escassez de recursos. Mas é uma situação que vai acontecer em Portugal na próxima edição da Taça», comentou.
Tal como o colega Olegário Benquerença, o internacional de Lisboa entende que «a arbitragem não pode ser o único alvo da tecnologia»: «Também deve servir para verificar o comportamento dos jogadores, que muitas vezes simulam e procuram ludibriar os árbitros, que provocam agressões..»

in: MaisFutebol

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