Opinião: As novas tecnologias no futebol

Vale a pena ler ...

As novas tecnologias no futebol
Periodicamente, principalmente quando perdem os jogos, dirigentes e treinadores clamam pela introdução das novas tecnologias no futebol. Mas será que os problemas actuais do futebol em Portugal seriam resolvidos com novas tecnologias? Penso que não. Apenas continuariam as polémicas semanais habituais mas noutros moldes.
O problema do futebol é que foi um jogo inventado, em meados do século XIX, na sua origem para ocupar os alunos dos colégios ingleses e não para ser um negócio de milhões como é hoje. Assim, as suas regras foram formadas no século XIX com aquele fim. Quando no pós-II Guerra, no século XX, a pouco e pouco o futebol começou ser um negócio, e cada vez menos um desporto, as suas regras revelaram-se incapazes dos novos tempos.

Os americanos, no basquete, também um jogo inventado para ocupar alunos dentro do ginásio nos dias de chuva, viram isso a tempo e introduziram no jogo profissional alterações de fundo tendo em vista há sua melhor audiência na televisão como, por exemplo, o jogo ter quatro tempos de 15 minutos contra os dois de 30 minutos iniciais. Assim o jogo, com os três intervalos, já podia receber mais dinheiro da publicidade das TV’s. O futebol nunca conseguiu ultrapassar o seu estatuto antigo e o resultado, um pouco absurdo, é que um jogo que vale milhões de Euros pode ser resolvido com apenas com um golo solitário daí os constante problema com a arbitragem, o elo mais fraco do sistema, quando se perde, claro! No basquete, onde um jogo se resolve com cerca de 100 pontos uma falta, a menos ou a mais, pouco interfere no resultado final, mas no futebol um golo apenas pode dar milhões de euros mais ou a menos.

As NT, na opinião dos complicadores habituais do futebol, tudo iriam resolver. Os jogos seriam filmados e em caso de dúvida o jogo parava, uma comissão analisava as imagens, decidia a falta, ou a sua ausência e o jogo continuava. E com a colocação de um micro processador no interior da bola os golos seriam prontamente assinalados.

Tudo bem resolvido e assim os jornais desportivos e as estações de TV teriam que encontrar outros assuntos para as polémicas semanais. Mas será assim tão simples? Não! Em Portugal tudo seria ainda mais complicado, e senão veremos com exemplos práticos.

Programa Domingo Desportivo na RTP 1 no dia 11 de Janeiro. Dois especialistas conceituados da nossa praça, um antigo árbitro e um antigo jogador, apreciaram as imagens de uma possível grande penalidade contra o Benfica no jogo contra o Braga. As imagens foram passadas quatro vezes, de três câmaras, em normal e em câmara lenta. Pois as opiniões finais, dos conceituados especialistas em futebol, foram exemplares:
- O antigo árbitro disse que ainda tinha dúvidas se seria falta...
- O antigo jogador, que nunca jogou pelo Benfica disse ser falta.

Este jogo até envolveu declarações do presidente da Liga dos clubes e outras altas individualidades. O Braga barafustou, entregou participações na Liga, mas como é habitual tudo se esqueceu pois na semana seguinte foram descobertos, ou inventados, novos casos que por sua vez foram ultrapassados na outra semana....

Vejamos agora aquela situação concreta com as NT a funcionarem. O árbitro, talvez a pedido do Braga, parava o jogo. Depois o árbitro, com uma comissão formada por delegados de cada clube e outras personalidades, iria para um gabinete ver as imagens enquanto os milhares de adeptos iam roendo as unhas nervosamente à espera da decisão. E depois quem decidia? A maioria? Então o clube que perdia a votação na 2ª feira seguinte viria para os jornais dizer que o árbitro, em conluio com os outros elementos da comissão, “lhes tinham roubado um penalti descarado”. Quer dizer, as NT necessitam sempre no final da sua apreciação de uma decisão humana que tem que ser tomada por alguma pessoa ou por um grupo. Assim, a parte que se julga prejudicada, haverá sempre uma, pois só há duas decisões possíveis, ou há falta ou não há, convencido de ter toda a razão, virá sempre para praça pública acusar os outros de “roubalheira descarada”.

Com opiniões destas, perfeitamente sectárias, como é que seria decidido o resultado final na prática? A tal comissão ficava no gabinete a discutir durante tempos infinitos ou teria a um tempo estipulado no fim do qual teria que sair sempre uma decisão final? E qual seria a reacção dos adeptos, no campo, quando soubessem, alguns minutos mais tarde e depois de uma espera angustiante, que a decisão era contrária às suas expectativas? Certamente que iram reagir com violência pois agora, além do árbitro, havia a tal comissão contra eles o que confirmava a conspiração da qual, já na véspera do jogo, um seu prestimoso dirigente tinha anunciado num jornal desportivo.

Num campeonato normal, como é o inglês, os árbitros erram mas no final do campeonato os erros, em teoria, são distribuídos mais ou menos equilibradamente por todos os clubes. Em Portugal começa-se dizer mal do árbitro, seja ele qual for, na semana anterior ao jogo. Depois, o clube que perde, no final organiza, desde os jogadores aos dirigentes, um clamor geral contra o árbitro que os “roubou”. Mas, se ganhassem o jogo, afirmariam, candidamente, que “a arbitragem não influenciou o resultado pois toda a gente viu que a nossa equipa foi claramente superior em campo”.

Aliás o sectarismo clubístico é de tal ordem que roça o absurdo. Aconselho os leitores, com dúvidas, a lerem, com atenção, uma entrevista que veio publicado no Jornal de Notícias, do Porto, no dia 22 de Fevereiro. Na véspera do jogo entre o Sporting e o Benfica, que teve o resultado de 3 a 2, o jornal entrevistou um adepto do Sporting que é cego e assiste a todos os jogos em Alvalade. Pois esse adepto, formado em Psicologia pela universidade de Genebra, não teve o menor rebuço em afirmar "Há uma espécie de sportinguite em alguns árbitros, dirigentes e treinadores. Sofrem dessa inflamação. O Sporting é muito prejudicado. Isto não é uma lamúria, é uma verdade". Depois, acrescentou esta pérola "O Sporting não pode ganhar, porque é o Olegário Benquerença. É dos tais árbitros que sofre de sportinguite.” Ora até foi com aquele árbitro que o seu tão amado Sporting ganhou o jogo ao Benfica!

Com adeptos, dirigente, jogadores e treinadores deste calibre, que são aos milhares por esse país fora, não serão as Novas Tecnologias que irão resolver os problemas das dúvidas na arbitragem neste pobre e falido futebol português.


Autor: Alberto Pereira (professor aposentado)
In: setubalnarede.pt

Comentários

Unknown disse…
tv pampa de porto alegre.google gandulinha invençao do seculo
jose disse…
invento para o futebol,google gandulinha invençao do seculo