ENTREVISTA - Howard Webb no centro das atenções



Howard Webb será o primeiro árbitro inglês a arbitrar uma final do Campeonato do Mundo da FIFA desde 1974. Ele deu uma entrevista acompanhado dos assistentes Mike Mullarkey e Darren Cann e fez uma análise do desafio de arbitrar a decisão entre Espanha e Holanda no Estádio Soccer City, além de falar da importância do trabalho em equipa.

Qual é a sensação de repetir o feito de Jack Taylor, o último árbitro inglês a arbitrar uma final do Campeonato do Mundo da FIFA, há 36 anos?
Howard Webb
: É uma honra enorme. Jack é uma pessoa que respeitamos, um ídolo da arbitragem. Ele tem nos apoiado muito nos últimos anos. Por isso, poder seguir os passos dele é incrível. Acabo de falar com ele por telefone. Ele veio para assistir ao jogo e, assim, espero ter uma hipótese de encontrá-lo. Somente 19 homens arbitraram esta partida. É um grande privilégio entrar para este grupo exclusivo.

Você teve alguma indicação de que seria escolhido para a final antes do anúncio?
Os jogos que arbitramos correram bem. Darren e Mike fizeram um grande trabalho e ajudaram-me muito. Por causa disso, pensamos: "Temos a hipótese de arbitrar um jogo das últimas fases." Mas outras coisas precisavam acontecer, como a nossa selecção nacional não avançar no torneio. Não queríamos que ela fosse eliminada, claro, mas quando isso aconteceu, tivemos noção que as nossas hipóteses tinham aumentado. Ouvir os nossos nomes pronunciados na reunião da última quinta-feira foi um momento extraordinário. Segurava-mos firme as mãos uns dos outros sob a mesa. Mas ainda temos o trabalho duro pela frente.

Os holofotes estarão sobre você, Howard, mas fica evidente que vocês são uma equipa...
Algo que este torneio deixou claro é a importância do trabalho em grupo. Os três árbitros que cuidam de cada jogo sabem que um erro pode prejudicar toda a equipe e significar o fim de qualquer ambição. Por isso, contamos uns com os outros. A experiência que ganhamos há dois anos na Euro (quando voltaram mais cedo para casa), nas partidas do Campeonato Inglês e da Liga dos Campeões da UEFA — além, claro, dos jogos que fizemos aqui na Copa do Mundo — tornaram-nos uma equipa bem unida.

Como é que vocês se preparam para arbitrar um jogo que bilhões de pessoas verão?
É um jogo importantíssimo e será o auge das nossas carreiras. Mas precisamos nos preparar como sempre fazemos. O jogo continua tendo 90 minutos ou no máximo duas horas, continua a ter 22 jogadores e uma bola. Vamos comer no horário de costume e descansaremos um pouco, como se fosse antes de uma partida da Liga dos Campeões da UEFA. Algo que faremos de diferente será visitar o estádio. Já estivemos no Soccer City como espectadores, mas gostaríamos de andar pelo relvado na véspera para visualizar algumas situações que podem acontecer. Os meus colegas darão uma olhada nas linhas laterais e correrão ao longo delas e também verão as condições do relvado. Eu irei caminhar sobre a linha principal que vou controlar. Fizemos o mesmo antes da final da Liga dos Campeões e isto serve para nos deixar mais ambientados.

Que tipo de conversas vocês têm antes de um jogo?
Darren Cann
: Howard dá-nos as instruções de sempre na manhã da jogo. Por isso, podemos nos concentrar bem. Temos consciência da importância deste jogo, mas temos de tratá-lo como se não fosse a final do Campeonato do Mundo. Se ficarmos a pensar sobre as milhares de pessoas no estádio e os bilhões que assistirão ao encontro pela televisão, não teremos uma boa actuação. Mike Mullarkey: Antes de cada jogo, falamos sobre darmos o nosso melhor e de não termos nenhum arrependimento quando sairmos de campo. Pelos intercomunicadores, estamos constantemente a nos motivar e apoiar, dizendo coisas como "boa sinalização com a bandeira". Mesmo que não estejamos envolvidos em todas as jogadas o tempo inteiro, ainda assim fazemos parte do jogo.

Foram 14 meses incríveis para vocês: a final do Campeonato de Inglaterra em maio de 2009, a decisão da Liga dos Campeões da UEFA em maio deste ano e agora o último jogo do Campeonato do Mundo da FIFA. Como é que vocês explicam estas conquistas?
Howard
: A arbitragem tem altos e baixos. É preciso manter a autoconfiança quando as coisas não estão a correr tão bem. Mas isso prova o quanto estamos trabalhar bem em equipa. Também é preciso sorte. Temos alguns colegas muito talentosos que não tiveram a sorte de estarem aqui. A Liga dos Campeões deste ano foi a nossa primeira hipótese em muitos anos, por causa das boas campanhas dos clubes ingleses nas últimas temporadas. O fato de que esta oportunidade tenha surgido foi uma boa casualidade, mas é preciso aproveitar as hipóteses quando elas aparecem.

A experiência na Liga dos Campeões irá ajudar em alguma coisa?
Em relação à preparação psicológica, sim. O assédio da imprensa foi parecido, assim como as mensagens que recebemos das pessoas na Inglaterra. O facto de termos arbitrado aquele jogo, que é muito semelhante a este, deu-nos forças: irá fazer com que muitos dos factores desconhecidos desapareçam. Fomos capazes de actuar sob os olhares de muita gente e além disso, depois do jogo, as pessoas estavam a falar das equipas e não de nós.

As vossas famílias estão por aqui?
Howard
: O meu pai veio para as três primeiras semanas do torneio, mas voltou para casa na terça-feira passada. Por isso, teve de apenhar outro voo para cá na quinta-feira à noite. Foi o mesmo que aconteceu com o pai de Mike. Darren Cann: O meu pai com certeza acreditou mais. Ele pensou que podíamos arbitrar a final e decidiu ficar. Os três estarão sentados lado a lado.

Por último, Howard, a sua mulher disse numa entrevista que você não consegue controlar os filhos. É verdade?
Ela me ligou ontem e disse que perguntaram a ela quem levava as rédeas em casa. Para ser justo, ela é quem impõe mais disciplina, provavelmente porque fico longe de casa por muito tempo e, quando volto, mimo as crianças e sou muito mole com eles. Ela é quem tem de manter o controlo.

Fonte: FIFA

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