RefereeTip entrevista Olegário Benquerença

RefereeTip inicia hoje uma série de entrevistas a diversos agentes da arbitragem.
Olegário Benquerença, árbitro português que esteve presente no Mundial de Futebol 2010 na África do Sul é o nosso primeiro entrevistado:

Este mundial terá sido muito marcante para ti mas também para a arbitragem portuguesa. Que balanço fazes da tua participação nesta competição?
OB: O balanço é, como não poderia deixar de ser, muito positivo. Durante todo o processo de selecção, acreditamos que conseguiriamos o objectivo de ser seleccionados para a fase final, sabendo, no entanto, que este era um processo muito dificil. Depois de conseguirmos este passo, tudo o que viesse era muito bom e um prémio para a dedicação e empenho que sempre demonstramos. Olhando para trás e vendo tudo o que fizemos, sem falsas modéstias, podemos afirmar que foi um sucesso.

De todos os momentos por vividos por ti e pela tua equipa há algum que tenha sido mais especial e que tenha ficado marcado na memória?
OB: Foram vários, felizmente, os momentos especiais durante o torneio. Destacar algum será minimizar tantos outros. No entanto, o final do jogo Uruguai – Gana, considerando o ambiente fantástico do jogo, a sua responsabilidade e o nível de desempenho que conseguimos, foi o culminar de um sonho de 20 anos e ficará para sempre na minha memória.

Antes de partir para a África do Sul disseste que “fazer dois jogos significa fazer uma participação de sucesso”. O que significou ser escolhido para o terceiro jogo?
OB: Uma sensação de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido nos jogos anteriores. Sabemos que todo o campeonato é importante, mas a partir da fase eliminatória, cada jogo é uma final. Ser escolhido para dirigir um jogo dos quartos de final, ainda para mais envolvendo o único representante do continente organizador, foi uma demonstração de confiança pela estrutura da FIFA e que nós procuramos estar à altura de merecer.

Depois desse terceiro jogo acreditaste que poderias ir mais além no mundial?
OB: As nomeações nessa fase do torneio são muito mais dificeis. É necessário ter em conta as selecções ainda em prova, as confederações a que pertencem e a experiência dos colegas ainda presentes. Somando todos estes factores, sabiamos que seria quase impossível ter mais algum jogo. Contudo, mais do que lamentar o que não tivemos, é importante relembrar e realçar o que conseguimos.

Podes falar-nos um pouco do que são os bastidores e o convívio com todos os árbitros deste mundial. Como são recebidas as notícias das dispensas pela FIFA? Que tipo de reacção é que estas dispensas geravam no seio dos árbitros?
OB: O lado traseiro do palco é, também ele, um espectaculo dentro do espectaculo. O grupo é fantástico, a que não é alheio o facto de já nos conhecermos de competições anteriores. Há um espírito muito forte de entreajuda, pese embora a concorrência saudavel que existe e que se compreende. Cada um de nós quer ser o árbitro da final, mas isso não impede que todos desejemos prestações de sucesso aos nossos colegas. Sabemos bem que não existem vencedores individuais, sendo fundamental o sucesso colectivo da arbitragem para que sejamos lembrados no futuro. As dispensas nunca agradam a quem sai, o que é perfeitamente natural. No entanto, todos sabíamos as regras e aceitamos sempre as decisões dos responsáveis. Até pela forma como está organizado o programa de dispensas, a dor que elas causam é minimizada por momentos de convívio e interacção que ajudam a passar a fase inicial.

Este mundial ficou marcado por alguns erros polémicos de arbitragem. Como classificas a qualidade da arbitragem neste mundial?
OB: Erros de arbitragem existem e existirão sempre. Nenhuma actividade tem taxas de sucesso com 100%. De resto, também houve erros de jogadores e treinadores, alguns deles com implicação directa no percurso das respectivas equipas. Num conjunto de 64 jogos, a taxa de acerto foi, como disseram os responsáveis da FIFA, acima de 95%, o que nos remete para patamares de excelência. O maior destaque deve ir, na minha opinião, para os Assistentes, que tiveram diversos lances decisivos e com decisões de grande categoria.

Qual a tua opinião sobre a introdução de novas tecnologias na arbitragem? E quais?
OB: Esta é uma matéria que compete às instâncias próprias. A FIFA e o IFAB têm pessoas competentes a analisar esta matéria, sendo despropositado lançar mais confusão nesta discussão. Em resumo, posso dizer que todos os meios que auxiliem os árbitros a garantir a verdade desportiva serão benvindos.

Pela tua experiência, achas que é mais difícil arbitrar competições de âmbito nacional ou competições Internacionais?
OB: São realidades completamente diferentes e, como tal, não podem ser comparadas. Pessoalmente, sinto-me muito melhor a arbitrar jogos internacionais, competições onde o nível técnico dos jogadores é mais elevado e as clubites não são tão acentuadas.

Depois desta participação quais são as tuas expectativas para o futuro?
OB: Continuar a trablhar com rigor e seriedade, por forma a estar preparado para merecer futuras chamadas para competições desta dimensão. Tenho mais 5 anos de carreira e estaria muito mal se achasse que tinha atingido tudo o que queria ou poderia viver à sombra do que já consegui.

Como português, como analisas a prestação da selecção nacional neste mundial?
OB: Não me compete analisar o desempenho da selecção portuguesa, tal como não acho que faça sentido os jogadores comentarem os nossos desempenhos. A selecção chegou onde conseguiu chegar, foi eliminada pela equipa que veio a tornar-se campeã mundial e fez o que teve capacidade para fazer. Se entenderem que a prestação não foi positiva, devem apenas queixar-se de si próprios, pois não foi por falta de condições de trabalho ou apoio que não conseguiram chegar mais longe.

Para terminar, que mensagem gostarias de deixar às pessoas e às organizações que sempre te apoiaram durante esta prestação no mundial?
OB: Um agradecimento muito especial a todos os que acreditaram que o sonho era possível. Juntos conseguimos cumpri-lo e penso que não envergonhamos quem nos defendeu e sempre acreditou. Não seria justo destacar individualmente ninguém, mas, por ser anormal e raro, deixo uma palavra especial ao Senhor Secretário de Estado da Juventude e Desporto, Dr. Laurentino Dias, pois foi, desde a primeira hora, um fervoroso adepto, com constantes mensagens de incentivo e confiança. Sendo o responsavel máximo do Desporto em Portugal, simbolizo nele o agradecimento a todas as pessoas e entidades que nos apoiaram e ajudaram nesta caminhada.

RefereeTip agradece ao Olegário Benquerença a disponibilidade para se efectuar esta entrevista bem como a foto cedida onde surge com os seus árbitros assistentes José Cardinal e Bertino Miranda.

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