Opinião: Sem futebol: antes, durante e depois

Refereetip esclarece que este artigo de opinião foi escrito tendo em atenção o estdo actual do futebol no Brasil, não em Portugal...

O futebol brasileiro virou uma guerra, principalmente verbal. Parece que os envolvidos com o esporte querem ganhar o jogo antes de seu início, ficando a semana inteira que antecede à partida pressionando árbitros, reclamando de tudo e até prevendo como seu time será prejudicado.


Durante os 90 minutos fica claro que jogadores e técnicos querem muito mais achar meios de ludibriar a arbitragem e intimidar o adversário do que usar da técnica e da estratégia para ganhar a partida jogando apenas futebol.

Depois das partidas, os derrotados não aceitam ter perdido o jogo e procuram achar desculpas para o revés. Já os vencedores, no lugar de comemorar, preferem fazer pouco do adversário. Pronto, assim no próximo encontro entre esses times o cenário para um conflito já está armado.
Pensei que o nosso fracasso na última Copa do Mundo acabaria com termos como "superação", "coração na ponta da chuteira", "comprometimento" e outras bobagens que só são válidas para aqueles que não sabem jogar futebol.
Não me conformo como muitos aceitam passivamente carrinhos maldosos e entradas desleais em lances que não oferecem nenhum perigo, e ainda é dada razão ao atleta que "se defende" pisando com maldade no adversário que vai tentar o desarme.
Antes que me chamem de romântico, sei que sempre ocorreram brigas homéricas e provocações entre jogadores. Mas a grande diferença é que as confusões aconteciam por situações de jogo.

E, depois dos ânimos serenados, tudo acabava quando o árbitro encerrava a partida - não raro os jogadores envolvidos nos safanões saíam juntos após a partida. Hoje, não. A briga tem de continuar por vários dias - com boa parte da imprensa alimentando a polêmica.

O que aconteceu na partida entre Palmeiras e Corinthians - é apenas um exemplo, do está acontecendo em qualquer partida que envolve grandes rivais -, principalmente no primeiro tempo, foi uma vergonha. É inadmissível que profissionais entram em campo não para jogarem futebol ou tentar fazer que a partida melhorar, mas sim para trocarem ofensas e patadas.
Aqui não estou falando apenas de um ou outro profissional, falo da grande maioria dos que atuam no futebol brasileiro, mas, no clássico do último domingo, foi muito mais fácil para os treinadores alimentaram discussões após o jogo do que explicarem a razão de seus times entrarem em campos tão descontrolados ou comentarem a parte tática e técnica da partida.
O corintiano Tite poderia "falar demais" porque seu time, mesmo com um jogador a mais durante boa parte do jogo, foi dominado pelo rival e teve poucas oportunidades de marcar.
Já Luiz Felipe Scolari poderia falar da desatenção do time no lance do gol de empate do Corinthians e da incapacidade do time em decidir a partida quando tinha o adversário dominado - e isso só não aconteceu no clássico, em várias partidas em 2011, o Palmeiras teve esse problema.
Futebol ainda se joga com os pés e fica extremamente chato quando tentam fazer com que uma discussão que acontece fora ou dentro dos gramados valha mais que um drible.

Até a próxima.

Humberto Luiz Peron, 41 anos, é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance".

Fonte: Folha de São Paulo

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