Entrevista a Duarte Gomes (Futebol ao Segundo)


O árbitro Duarte Gomes, da Associação de Futebol de Lisboa, em entrevista exclusiva ao FAS - Futebol Ao Segundo, é a favor da profissionalização dos árbitros, porque "não faz sentido serem a única estrutura amadora dentro de um espectáculo tão mediatizado".

FAS - Futebol Ao Segundo (FAS) -Desde quando é árbitro?

Duarte Gomes (DG) - Sou árbitro desde Março de 1991. Tirei o Curso na AF Lisboa, nesse mesmo ano, e comecei a actuar no início da época seguinte.

FAS - Ainda se lembra do seu primeiro jogo como árbitro?
DG - Recordo-me desse jogo. Era suposto ser Fiscal de Linha (designação de então), mas nenhum dos outros colegas nomeados apareceu. Acabei por dirigir o jogo, que era de Juniores A, de uma equipa que na altura se chamava Ramilux (patrocinada por empresa com o mesmo nome) e que actuava na 1ª Divisão Distrital do escalão.
Jogavam no campo do Palmense, na zona das Laranjeiras, em Lisboa. Foi uma surpresa, mas correu relativamente bem.

FAS - Que balanço faz da presente época?

DG - O balanço desta época, até agora, é positivo. Continuo a trabalhar muito dentro de uma estrutura que, apesar de amadora, procura dar aos seus árbitros condições de trabalho muito razoáveis, nomeadamente a nível logístico. Os árbitros de hoje tendem a criar, por sua iniciativa, condições para que possam arbitrar com mais e melhor qualidade, fazendo nessa matéria um forte investimento pessoal. Naturalmente que o grande objectivo é errar cada vez menos, diminuir o número de interferência (negativa) no resultado final dos jogos e dirigir cada partida com máxima isenção, equidistância, empenho, concentração e motivação.

FAS - Foi árbitro assistente de Pedro Proença, na final da Liga dos Campeões e na final do Euro 2012. Que sentimento tem acerca destes dois momentos históricos?

DG - Foram dois momentos marcantes na minha carreira. Ter a possibilidade e o enorme privilégio de fazer parte da equipa de arbitragem que dirigiu as duas maiores competições de futebol europeias, numa só época, é algo que guardarei com muito carinho no baú das minhas memórias. Mais importante ainda, pelo facto de ter desempenhado funções novas, no âmbito de uma iniciativa UEFA, no que diz respeito ao alargamento do número de árbitros em campo. Funcionou e bem, e isso deixa-me muito grato e feliz.

FAS - Acerca dos árbitros assistentes de baliza, tem havido alguma polémica. O que tem a dizer?

DG - São ainda incompreendidos, fruto da má divulgação por parte de quem tutela, que é, efectivamente, o seu mérito e o seu papel em campo.
Na prática, os Árbitros Assistentes Adicionais ("baliza") têm um conjunto variado de funções em campo, bem além da mera análise de situações golo/não golo (lances de dúvida). Aliás, essa dificuldade mantém-se em lances mais difíceis, pelo que a tecnologia será seguramente algo que em breve fará parte do apoio a esse tipo de decisões.
A grande vantagem de ter mais árbitros na zona das áreas é a de prevenção de infracções (por exemplo, grandes penalidades) nessas zonas. A presença de um elemento da equipa de arbitragem tem, comprovadamente, diluído, e muito, o número de agarrões e empurrões nas áreas, particularmente, em lances de bola parada. Além disso, têm sido de uma enorme mais-valia na deteção de infracções da equipa atacante bem como outro tipo de faltas ocorridas fora da área e até da sua zona de acção, onde a sua colocação - embora mais distante - permite uma análise mais lúcida e clara sobre essas infracções.
O problema é que não há exteriorização visível das suas decisões (não fazem gestos nem usam um apito) apenas comunicando com o árbitro aquilo que detectam, razão pelo qual, muitas vezes, se julga que nada está a fazer ou é inoperante, o que na prática não é verdade.

FAS - Concorda com a profissionalização dos árbitros?

DG - Obviamente que sim. Não faz sentido os árbitros serem a única estrutura amadora dentro de um espectáculo tão mediatizado, evoluído e industrializado como o futebol. A responsabilidade que têm no desenrolar dos jogos e na defesa da legalidade de cada partida não é compatível com um registo amador nem pode continuar a ser desse modo.
Estou certo que, na sequência de passos firmes já dados nesse sentido, essa será uma realidade para muito breve.

FAS - A Liga Portuguesa de Futebol Profissional aprovou o recurso a árbitros estrangeiros para arbitrarem em Portugal. O que tem a dizer relativamente a isto?

DG - Encaro com a mesma naturalidade que encarei a minha presença (e de outros colegas meus) em outros campeonatos internacionais, a pedido/convite de várias federações nacionais, para dirigir jogos das suas competições internas, tal como já sucedeu na Ucrânia, Rússia, Egipto, Irão e Arábia Saudita, só para dar exemplos recentes.
Desde que o intercâmbio funcione em ambos os sentidos e de forma totalmente equitativa, tal como é suposto, julgo que todos temos a ganhar com essa salutar troca de experiências.

FAS - Concorda com o árbitro Pedro Proença, que disse que preferia não arbitrar a final do Euro 2012 e ver Portugal na final do Euro 2012?

DG - Sem dúvida. O nosso sentimento patriótico é sem dúvida maior, muito maior, que as nossas ambições pessoais. E a prova disso foi recente, quando todos (os árbitros portugueses) que estavam no Euro 2012, ficaram profundamente tristes e desiludidos ao assistir àquela fatídica marcação de grandes penalidade para achar o vencedor, nas meias-finais, entre Portugal e Espanha, mesmo sabendo que dessa derrota poderia surgir a oportunidade de avançarmos na competição, o que aliás, até veio a suceder.





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