Profissionalização na Arbitragem (Um caso histórico)

Em Janeiro de 1963, já Adriano Peixoto, o seleccionador da primeira equipa de juniores de Portugal, preconizava que a arbitragem seguisse caminhos idênticos aos dos seus companheiros directos no desporto-rei (jogadores e treinadores), pois não entendia tal diferença numa área onde se movimentavam enormes quantias

Eu, enquanto formador, em Fevereiro de 1994, numa entrevista concedida ao Boletim Off-side, do Núcleo de Árbitros de Futebol de Lisboa, também exaltava a mesma medida, porque no futebol tudo é profissional (desde o tratador da relva do estádio ao pessoal da lavandaria), e é um a amador (o Árbitro) que está dependente do patrão, se for caso disso, para poder ir dirigir a partida que irá decidir um qualquer título de uma competição nacional ou internacional, envolvendo montantes elevadíssimos e consequências ainda mais dilatadas…

Entretanto, dá-se conta que o Mestre Joaquim Campos foi o primeiro Árbitro profissional português, mas fora do país, no Brasil!
Vamos então à história: A Federação Paulista de Futebol solicitou à sua congénere portuguesa que lhe facultasse um dos seus Árbitros internacionais, para, durante um período, pudesse dirigir jogos do seu campeonato principal, pois entendia que os juízes brasileiros permitiam abusos, em termos de tempo, na reposição da bola em jogo (?). Face ao pedido e à aceitação das condições propostas, aliás muito interessantes, a Comissão Central de Árbitros de Futebol (portuguesa) decidiu que iria fazer um sorteio entre três dos seus categorizados filiados para saber quem ia ao país irmão.
Foram seleccionados ANÍBAL da Silva OLIVEIRA (n. 06.11.1918†04.02.2010), SALVADOR Heliodoro GARCIA (n. 20.12.1919†24.09.2002) e JOAQUIM Fernandes de CAMPOS (n. 05.09.1924) todos da Associação de Futebol de Lisboa.
A sorte não bafejou os dois primeiros que tiraram as bolinhas com a palavra “não” e graças à última, que até ficou por tirar, Joaquim Campos foi o sortudo, mas, conforme acordado previamente, quem fosse ao Brasil pagaria a cada um dos seus colegas a quantia de 10.000 escudos, o que se verificou…
OS TRÊS “MOSQUETEIROS” QUE ACTUOU NO PAULISTÃO 1969
O inicial contrato de locação de serviços (ver imagem) foi assinado em Lisboa, mas, dado que Joaquim Campos tinha dois irmãos em São Paulo, que lhe proporcionaram hospedagem e alimentação reduzindo, assim, substancialmente a despesa à Federação Paulista. Foi elaborado novo acordo, cujos valores foram reduzidos 50%, com os pagamentos mensais a serem-lhe sempre feitos a tempo e horas.
PELÉ NUM DOS JOGOS DIRIGIDOS POR JOAQUIM CAMPO
Joaquim Campos foi muito bem recebido no Brasil, destacando particularmente o seu amigo José Astolphi e lembra que houve alguma dificuldade dos brasileiros aceitarem a sua maneira peculiar de actuar, mas, mesmo assim, trabalhou em 20 jogos que se descrevem a seguir. Mais assinala a excelente colaboração que recebeu dos Árbitros auxiliares brasileiros e a particularidade das peças do seu equipamento, utilizado todos os jogos, terem sido confeccionadas em São Paulo!

Considerou expulso o Rei Pelé na primeira partida pois o famoso jogador proferiu o termo “ladrão” e vai daí Joaquim Campos passou essa expressão para o relatório e o castigo aplicado resumiu-se a um jogo. No final da competição foi merecedor de um almoço de despedida muito concorrido especialmente por todos aqueles que o acompanharam durante a sua estadia. Realce-se ainda que os 6 jogos da fase final do campeonato de 1969, somente actuaram o argentino Roberto Hector Goicochea (n. 27.11.1927†20.06.2000) o brasileiro José Favilli Neto e, naturalmente, Joaquim Campos. Todos dirigiram duas partidas e foram “bandeirinhas” nos restantes. Coube a Joaquim Campos dirigir o jogo decisivo (o penúltimo) que valeu o título ao Santos Futebol Clube.
O PRIMEIRO ESTÁDIO ONDE ACTUOU JOAQUIM CAMPOS

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